terça-feira, 28 de agosto de 2007

Saudades da face inberbe

Ultimamente ando me lembrando de quando era criança, não que eu tenha saudades de quando era pequeno, tenho saudades, sim, da simplicidade, das cores vivas, de não me preocupar em nada além do agora..... de não me preocupar em ser olhado..... nem que percebecem que era eu quem estava olhando..... tudo não passava de vida, pura e simplesmente vida..... Era não viver para um futuro desconhecido e nem tentar desvendá-lo..... era o não preocupar com o que estava por vir, nem pelo que havia passado..... Era tudo que qualquer um poderia desejar...... Não havia necessidade de mais nada......
Mas, não mais.... não mais..... agora o que me governa é o desejo..... o querer..... e quanto mais eu quero..... menos simples as coisas se tornam...... o desejo me alimenta e me faz passar fome...... o desejo me leva a loucura e me traz a sanidade..... o desejo me traz uma vontade sem fim de tudo aquilo que eu não tenho e me faz querer ainda mais aquilo que eu não posso ter...... o desejo me move e me consome..... o desejo me traz as paixões que me fazem querer estar vivo.........
Aqueles amores platônicos, daltônicos, sinfônicos ou harmônicos, sinônimos ou antônimos, tanto faz...... E tudo não passa do fruto de um único desejo.....
O desejo de desejar viver............

terça-feira, 3 de julho de 2007

Aquilo que as lágrimas não esquecem

Dias antes ele havia recebido uma mensagem.... Sob as sombras ele a observava esperando ser visto.... e sabia que era visto.... era isso que queria.... O tempo passou e ele se esqueceu.... Às vezes ele tentava não esquecer.... era raro, porém, quando isso não acontecia.... e era doloroso saber que isso acontecia.... Mas ele havia recebido a mensagem.... calorosamente fria como sempre.... e mais uma vez ele estava desconcertado.... era estranho como simplesmente lembrar de seu nome o deixava perdido.... como o fazia lembrar de tantas coisas.... como aquilo o afetava tanto.... como ele ficava tão absolutamente sem palavras.... .... e em sua face brotou um sorriso, não sabia se ria ou se chorava.... E foi nesse mandar de mensagem que o tempo havia chegado.... o tempo em que eles se encontrariam.... nem ele teria ensaios, nem ela provas.... pelo menos era isso que o rapaz pensava.... os dois haviam combinado que assim que chegassem as férias eles se encontrariam....
Mas existia algo, um sentimento, talvez paranóia, talvez insegurança, ele realmente não sabia o que era mas existia, uma premonição, talvez, quem sabe.... mas havia algum tempo que ele havia percebido algo estranho.... algo como se ela o evitasse.... os meios pelos quais se falavam antes ela parara de usar.... quando ele percebeu que ela usava outro que ele também usava, ele pensou, por que não, não haveria mal.... apesar de já sentir que algo estranho acontecia.... depois então ele notou que ela também parou usar logo após falar com ela.... ele sempre se achou paranóico, mas algo realmente estava acontecendo.... mas por mais que ele desconfiasse ele não queria acreditar, não poderia estar acontecendo.... seu corpo estremecia pela simples possibilidade disso.... não.... e ele tentava desesperadamente eliminar isso de sua mente.... e então.... ele liga para ela ou espera ligar... não sabe.... ele decide não fazer nada.... mesmo depois daquela mensagem enviada depois de tanto tempo....
Apesar do que estava acontecendo, do que sentia, ele já não estava tão perdido.... lembrar dela já não era tão desconcertante.... em sua mente vinha a imagem daquela que outro dia fizera seus olhos brilharem apenas de ouvir sua voz.... que alisava seus cheirosos cabelos.... que tão viva fazia em sua cabeça a imagem da sereia.... e ele suspirava... que deliciosa sensação sua lembrança trazia.... estava mais tranquilo....
Agora bastava fazer o que muitas vezes com seus olhos mareados ele lembrava.... bastava fazer aquilo que tanto ele quanto ela evitavam.... decidir.... por um fim.... escrever o epitáfio de toda aquela história....

domingo, 6 de maio de 2007

Lúgubres lembranças do cavaleiro de ébano

Como fantasmas de um passado distante elas voltam e me atormentam.... e a carne, antes calma e satisfeita pelo simples fato de não mais desejar se contorce.... num simples fechar de olhos sua imagem se forma e em meros instantes o fogo me consome.... num delicioso e doloroso calor.... ouço músicas para tentar acalentar a alma inquieta.... músicas que parecem réquiens mas que trazem à tona sentimentos tão vivos e tão incômodos quanto o agudo som das cigarras.... e a tormenta toma conta de mim.... confusão e caos.... quero te ter mais uma vez, teu corpo junto ao meu.... no meio de toda essa tortura, não resisto envio uma mensagem.... uma patética e tola mensagem de um tolo que não consegue esquecer uma paixão.... um devaneio.... olho suas fotos e respiro lentamente como se naquele ar que também a viu existisse seu cheiro... seu doce cheiro de chocolate.... seu cheiro de mil poemas de amor.... mensagem enviada.... nenhuma resposta.... vejos as horas escorrerem pela ampulheta como lágrimas que escorrem pelo rosto daquele que vê um sonho despedaçado.... vejos os grãos de areia caindo um sobre o outro.... só não vejo o brilho do pequeno aparelho que teima em ficar apagado como uma lápide que tem como epitáfio as horas e os minutos.... queria te entender.... passo dias elaborando hipóteses sobre o que se passa nessa linda cabecinha.... o que acontece do seu lado do telefone.... e, no entanto, meu maior desejo é não pensar em você....

Como é estranho ter doces lembranças de você....

quarta-feira, 18 de abril de 2007

O aborto de um pequeno sonho

Palavras soltas num papel.... virgens..... puras.... palavras que voam entre o que é e o que não é.... é a única coisa que realmente nos pertence.... idéias.... mas só pertencem enquanto não são.... pois o simples fato de existir exige que algo mais note sua existência.... idéias, sonhos, ilusões.... penso, pois, na nobreza dos escritores.... penso que muitas vezes eles sentiram medo e simplesmente queriam desfazer aquilo tudo, e talvez seja isso que os diferenciam das pessoas cujos nomes não foram escritos no livro dos imortais.... será que eles pensaram nisso.... será que eles pensaram em voltar atrás.... não sei.... talvez seja isso que vim descobrir.... talvez.....
Penso em mim como um progenitor de idéias.... quase como uma mãe..... e penso que talvez seja melhor não ter filhos.... entregá-los e esse mundo mesquinho, duro, que muitas vezes o ignorará, tenho medo do que o mundo reserva pra eles.... toda essa estupidez, toda essa violência, toda essa corrupção, tudo isso que propagamos..... o caos.... quero protegê-los.... não quero me sentir culpado pelo que os outros fizeram.... por talvez tê-los deixado fazer.....
Muitas vezes queria ter um botão que pudesse apertar, para que uma cadeira pudesse ejetar e abortar o sonho.....

domingo, 8 de abril de 2007

O último galope do cavaleiro negro

E tudo começou a um ano, quando, não à primeira mas à segunda vista me apaixonei.... e foi literalmente à segunda.... e por ela enfrentava qualquer desafio desde um kamikaze japonês depressivo a um cabeçudo bizarro de sexualidade duvidosa e com um ego tanto quanto frágil quanto grande.... enfrentei até um ano de mais absoluto celibato, vivendo somente da fantasia de algo que poderia vir a acontecer....
Nesse ano coisas de fato estranhas aconteceram.... pessoas novas.... situações novas.... amigos novos.... era a época do meu cursinho pré-vestibular..... absolutamente inesperado.... e lá estava ela.... no meio de todo esse rebuliço.... muita coisa aconteceu.... até ela desaparecer.... desistira do cursinho e partira pra uma alternativa talvez mais fácil e que com certeza exigia menos espera.... foi aí que tudo começou a descambar... contato perdido, como se houvessem cortado a linha telefônica.... não podia e não deixaria acontecer.... afinal o msn se mostrou útil, meus agradecimentos a microsoft.... não perdemos o contato, a ligação foi mantida, o problema é que raramente nos víamos.... e assim foi indo.... pequenos e lentos passos.... lentos demais.... e daí me chega um adversário inesperado, um coreano leso com cara de anime.... penso em entregar os pontos, a batalha estava perdida....
Quando achava que nada mais me surpreenderia algo acontece.... olha que eu vo aí na tua casa.... agora?.... é.... sério?.... sim.... você é louco.... eu sou.... mas você vai vir aqui mesmo, só que não posso ficar até tarde, uma três e meia no máximo.... você tá falando sério? eu achava que o louco era eu, tá bom vo me arrumar e vou sair quando tiver chegando te ligo.... tá bom mas você tem que me pegar na rua atrás da minha casa.... E essa noite terminou com um singelo beijo, mas que reacendera aquela chama que estava quase apagando....
Passa férias.... conversas pelo msn e nada mais que isso.... o namorado estava nos E.U.A..... mais uma chance pra mim, que eu faço questão de não perder.... mas janeiro passa e nada.... meu aniversário passa e nada.... mas algo me surpreende.... e ela me diz que aquele era meu presente de aniversário.... pra ela talvez fosse somente aquilo, mas pra mim era uma chance que eu não iria desperdiçar.... eu vou pra cima feito louco.... não desisto.... tinha um mês pra fazer ela esquecer do trouxa.... encontramo-nos mais vezes.... tudo estava as mil maravilhas, ao menos eu achava isso, foi então que percebi que minha última chance estava próxima.... e vem o desespero.... minhas ultimas palavaras pra ela não foram as que eu deveria ter dito.... deveria ter dito algo belo que talvez a fizesse suspirar... mas não pensava somente que ela deveria largar ele.... talvez tenha sido meu erro.... ou talvez tenha sido pensar que alguma vez tive chance....
O primeiro mês de aula acabou.... e nada mais dela.... ela sumiu.... vejo os grandes amigos que estão ali sempre me apoiando.... esquece ela, parte pra outra.... se você realmente quer vai pra cima, num desiste.... várias e várias conjecturas tomam conta de minha cabeça tentando explicar o que se passava, o que se passava na cabeça dela.... porque ela não respondia minhas mensagens, ou porque simplesmente me enrolava, evitando encontros.... e eu me via como um velho decrépto me arrastando pelos cantos tentando manter vivas lembranças que querem se apagar.... já não sei mais se tento mais uma vez, se desisto ou se vou atrás dela pra por um ponto final.... a cada momento que passa perco mais minhas forças, a cada momento que passa cresce em mim uma agonia do não acontecido.... Tenho vontade de subir num prédio alto, ficar em seu topo, e no meio de uma tempestado, de raios, trovôes e gotas grossas, abrir meus braços e fazer ecoar um grito surdo....
É o último galope do cavaleiro negro.... Já sem o garbo de seus ancestrais.... Já sem a velha couraça de guerra.... Já sem suas armas..... A única coisa que lhe resta é seu velho companheiro.... seu velho corcel cor de ébano........

terça-feira, 3 de abril de 2007

Ao suave sabor das pequenas coisas

E tudo começou com um pequeno riso de uma palhaçada talvez mal feita acompanhada de dois grandes amigos..... e assim foi se seguindo durante alguns dias..... risadas e pessoas... até pessoas que não via a tempo acompanhadas de novas pessoas..... e tudo terminou com um pequeno beijo de boa noite.....respirei sentindo um doce aroma de fim de noite.....
Uma semana nada agradável..... falta quem não deveria... ainda bem..... sinto fugir de mim toda força que tinha.... ainda bem mesmo..... volto a rever meus companheiros de peripécias.... já não sinto queimar em mim o que sentia, mas continuo com o jogo, não consigo desistir.....
Uma manhã absolutamente enfadonha com alguns risos permeando momentos de tédio e dor..... passo o dia me dizendo que já vou fazer o que deveria, o tempo passa e me pressiona.... entro num quase completo torpor...... decido sumir...... nada faço...... nada do que deveria fazer..... fico ansioso... está chegando a hora.... saio de meu sedentario estado mental e física e começo aquilo que tanto esperava.... infelizmente termina...... queria mais muito mais.... e fico numa sensação de que não poderia estar melhor..... não penso em nada.... absolutamente nada a não ser no presente.... estou sem minhas obcessões.... estou limpo.... estou novo.....
Só espero que amanhã já não esteja em meu velho estado instintivo....

segunda-feira, 26 de março de 2007

Caixa de Pandora

Um final de semana absolutamente estranho, muitas pessoas novas e muita coisa passando dentro de minha cabeça, sinto começar a perder o controle para meus instintos, meu desejo, minha carência, eu fecho meus olhos e tento vencer essa batalha. Sei que venci somente porque não fiquei....Assim começa essa nova semana que não me seria nada prazerosa.....
Domingo de completa inutilidade... compra de livros, lembranças de desejos não realizados, risos de situações não presenciadas, e terminar o dia com uma leve ansiedade que se tornaria uma enorme frustração....
Acordo, visto minha nada lustrosa armadura, escolho minhas armas e me preparo para uma batalha contra mim mesmo e quem vier pela frente, mal sabia eu que algo muito pior me esperava. É chegada a hora... mal caibo dentro de mim... sento e espero ansiosamente a hora de minha convocação.... Só que ela não acontece... Sinto explodir algo que tento controlar de forma intensa... Sou um Chernobyl prestes a acontecer.... Sinto-me capaz daquilo que todos temem falar... Sinto queimar em mim um sol... Meus olhos enchem-se e eu rapidamente os escondo.... Tento não transparecer o que se passa enquanto o sadismo mais puro toma conta de mim... A tortura acaba.... Saio procurando algo que me trouxesse um alívio.... Encontrei.... Gostaria que o grito que ecoa em mim se calasse, mas sinto que ele só espera a pequena Pandora.... Tiro minha armadura.... olho minhas cicatrizes, as antigas e as que teimam em sangrar... o cansaço me abate.... Amanhã vestirei minha armadura e bradarei declarando guerra.... Espero conseguir dominar meus demônios e não o contrário.... Espero vencer.... Espero que dessa vez me dêem a oportunidade de vencer....